Ex-delegado executado ordenou retirada de distintivo de arma de Da Cunha após fala sobre 'ratos' na polícia
17/09/2025
(Foto: Reprodução) Ruy Ferraz Fontes é executado com mais de 20 tiros no litoral de SP
O ex-delegado Ruy Ferraz Fontes, executado em Praia Grande, no litoral de São Paulo, é conhecido pela atuação no combate ao Primeiro Comando da Capital (PCC). Ao longo da carreira, acumulou casos de grande repercussão, como quando determinou a retirada do distintivo e das armas do delegado Carlos Alberto da Cunha (PP), em 2021 — os itens foram devolvidos em 2023.
Ruy foi assassinado na noite de segunda-feira (15) após cumprir expediente na prefeitura, onde atuava desde 2023 como secretário de Administração. A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) informou que dois suspeitos já foram identificados, mas ninguém havia sido preso até a última atualização desta reportagem.
Em 2021, ainda como delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Ruy instaurou procedimentos administrativos contra Da Cunha após o delegado afirmar, em um podcast com o ex-PM Gabriel Monteiro (PSD), que havia “ratos” dentro da corporação. A declaração motivou a retirada de seu distintivo e armas funcionais.
À época, Da Cunha reagiu publicamente à decisão e anunciou que recorreria à Justiça. “Eu passo anos e anos da minha vida combatendo o PCC, combatendo sequestrador, o mundo inteiro sabe que eu sou delegado, e quer que eu entregue as armas?”, declarou à época.
Ruy Ferraz Fontes era delegado-geral de Polícia quando o delegado Da Cunha teve as armas e o distintivo recolhidos
Prefeitura de Praia Grande e Redes sociais
Durante a tramitação do processo, Ruy chegou a registrar um boletim de ocorrência relatando perseguição por parte de seguidores de Da Cunha. Um dos casos envolveu um homem condenado por tentativa de invasão de dispositivo informático.
Segundo o registro, o suspeito enviou um link malicioso por WhatsApp com o objetivo de hackear o celular de Ruy, mas a tentativa falhou porque o delegado não abriu o conteúdo.
Arma e distintivo devolvidos
Dois anos depois, os itens foram devolvidos ao parlamentar, que atribuiu o episódio a uma perseguição política por parte da antiga gestão estadual. Ele agradeceu ao atual governo e afirmou: "Esta decisão do governo do estado restabelece a verdade e coloca um ponto final neste triste episódio", disse.
Da Cunha
O delegado Carlos Alberto da Cunha começou a fazer sucesso na internet com vídeos que mostram operações policiais e o dia-a-dia dos agentes. Em 2020, ele confessou publicamente que encenou o vídeo do flagrante de um sequestro em uma comunidade da capital paulista.
Delegado Da Cunha comemorou a devolução do distintivo e funcional nas redes sociais
Reprodução/Instagram
Assassinato de Ruy
O assassinato de Ruy Ferraz Fontes ocorreu momentos após ele cumprir expediente na Prefeitura de Praia Grande, no litoral de São Paulo, onde era Secretário de Administração. Ele estava aposentado da Polícia Civil. Em janeiro de 2023, assumiu a Secretaria de Administração de Praia Grande.
Outras câmeras flagraram o momento em que três criminosos portando fuzis desembarcam de uma caminhonete que estava logo atrás do carro de Ruy Ferraz e atiram contra o ex-delegado (veja abaixo).
Infográfico: criminosos fazem tocaia antes de iniciar ataque e perseguição ao delegado
Arte/g1
Quem era Ruy Ferraz Fontes
Entenda o que se sabe sobre a execução do delegado Ruy Ferraz Fontes em SP
Ruy Fontes foi delegado-geral de São Paulo entre 2019 e 2022 e atuou por mais de 40 anos na Polícia Civil. Teve papel central no combate ao crime organizado e foi pioneiro nas investigações sobre o PCC. Comandou divisões como Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), Departamento Estadual de Investigações contra Narcóticos (Denarc), além de dirigir o Departamento de Polícia Judiciária da Capital (Decap).
Formado em Direito pela Faculdade de São Bernardo do Campo, com pós-graduação em Direito Civil, Fontes teve passagens por delegacias especializadas como o DHPP, o Denarc e o Deic.
Foi justamente no Deic, no início dos anos 2000, como chefe da 5ª Delegacia de Roubo a Bancos, que ele iniciou investigações sobre o PCC, sendo responsável por prender lideranças da facção e mapear sua estrutura criminosa.
Sua atuação foi decisiva durante os ataques de maio de 2006, quando o PCC promoveu uma série de ações violentas contra forças de segurança em São Paulo.
Entre 2019 e 2022, comandou a Delegacia Geral de Polícia do Estado de São Paulo. Nesse período, liderou a transferência de chefes do PCC de presídios paulistas para unidades federais em outros estados, medida considerada estratégica para enfraquecer o poder da facção dentro das cadeias.
Ruy Fontes participou de cursos no Brasil, na França e no Canadá, e também foi professor de Criminologia e Direito Processual Penal.
Ele estava aposentado da Polícia Civil. Em janeiro de 2023, assumiu a Secretaria de Administração de Praia Grande, cargo que ocupava até agora, quando foi assassinado.
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